Vamos falar de passado?
Anos atrás, vi em algum lugar do Facebook uma curiosa enquete que visava eleger o melhor game de PlayStation 1 de todos os tempos. O legal dessa enquete era que cada pessoa podia escolher até três jogos e a votação era limitada pelo perfil, ou seja, votou, já era, e não tinha como neguinho votar 200 vezes no seu The Chosen One a não ser que ele criasse 200 perfis diferentes na rede social do Zuckerberg… Não que não existam gamers malucos a esse ponto, mas a enquete funcionou: foram coletados milhares e milhares de votos, e o resultado final da coisa foi surpreendente: Crash Bandicoot 3: Warped em primeiro, e Crash Bandicoot 2: Cortex Strikes Back em terceiro. E o primeiro Crash ainda aparecia no top 10, mas fora do pódio!
Juro que não lembro qual foi o jogo que ficou em segundo, mas isso é irrelevante para o que vou dizer: na hora de cada um escolher o seu título número 1 do console, os votos para os Metal Geares e Final Fantases e Resident Evilses da vida acabaram ficando diluídos em meio a tantas pessoas com gostos diferentes, só que uma quantidade absurdamente grande de jogadores tinham um personagem em comum para seus segundos e terceiros lugares: os games do marsupial criado pela NaughtyDog, Crash Bandicoot.
Aquele que por muito tempo foi o personagem mais legal do PlayStation, chegando inclusive a ser tratado como mascote da Sony em algumas oportunidades (principalmente na hora de cutucar a Big N e zoar o Mario), teve uma carreira brilhante no console, com quatro títulos de uma qualidade tamanha que o resultado estava estampado nessa votação aí. Mas pera aí, entendam o motivo de eu ter achado essa enquete tão legal: NUNCA alguém elegeria Crash Bandicoot 3 o melhor game do console, mas o formato dessa votação acabou possibilitando isso devido ao fato de que ela provou que Crash 3 era um jogo quase unânime dentre os donos do console: todo mundo gostava, e gostava pra caramba.
Tá cheio de nego barbado por aí que bate o pé que Crash Team Racing é melhor que Mario Kart 64 e vai aparecer um monte desses doentes aí nos comentários, só espera pra ver, e o jogo realmente era uma delícia, um senhor jogo de Kart que mostrou para todo mundo que o mascote poderia ter ido muito além dos 3 excelentes títulos de aventura que ele teve no PS1, isso se a Naughty Dog tivesse ousado explorar outras possibilidades… Eu acho que se isso tivesse acontecido, hoje teríamos Crash Party, Crash Tênis, Crash Golf, New Crash U, Crash Odyssey… Tá, eu sei que o personagem teve mais games depois do PS1, só que a essa altura do campeonato, a Naughty Dog, que só havia feito merda antes de criar Crash Bandicoot (tipo Way of the Warrior para 3DO), resolveu dar uma última cagada e passou os direitos da franquia para outra produtora, que passou pra outra, e pra outra… Um monte de jogos ruins começaram a pintar um atrás do outro e, como resultado, a carreira do personagem foi por água a baixo.
A volta do Marsupial
Aí, na E3 de 2016, o pessoal da Sony veio a público dizer que Crash estava finalmente voltando na forma de um personagem selecionável em um novo jogo da franquia Skylanders… Bem, obviamente que, apesar de toda a apresentação nostálgica com direito a dancinha da vitória e tudo mais, ninguém se sentiu muito empolgado com isso…
OK, foi muito legal ver novamente o personagem, coisa e tal, mas ninguém estava a fim de criar expectativas em mais uma apresentação genérica do personagem, ainda mais levando-se em conta que a Naughty Dog não estaria envolvidal. Mas o mesmo evento escondia a notícia que muita gente queria receber, e que eu, sinceramente, não entendo como não foi tratada como a principal em relação ao personagem: a trilogia clássica estaria, em breve, ganhando um remake completo (ou remaster plus, já explico) com gráficos HD, refinamentos e adições no gameplay, e não seria aquele velho papo furado de só adicionar uns plugins pra fazer aquele upscalling cretino no jogo e tudo certo… Não senhor, o negócio era profundo, tudo refeito e animado novamente do zero a partir da geometria original das fases de modo manter a máxima fidelidade possível, tudo em homenagem ao 20º aniversário do personagem. A história termina com a última edição da Playstation Experience, ocorrida em Dezembro daquele ano, onde a Sony revelou que o projeto seria uma coletânea contendo os 3 jogos clássicos, que esta se chamaria Crash Bandicoot N. Sane Trilogy e que seria desenvolvida pela Vicarious Visions, subsidiária da Activision que já havia criado vários jogos meia bocas da franquia Crash depois que a Naughty Dog passou a bola.
Inclusive neste evento, representantes da Vicarious ficaram em cima do muro quando a imprensa fez a pergunta inevitável: é remake ou remaster? Por isso eles inventaram esse tal termo Remaster Plus: disseram que não seria um Remake porque muito material original seria utilizado para a reconstrução dos jogos, mas ao mesmo tempo, os novos gráficos, trilhas sonoras e animações seriam refeitos do zero bem como a adição de novos elementos aos jogos, como a inclusão do Time Trial nos dois primeiros games e a possibilidade de se jogar tudo com a Coco, a irmã do protagonista que tomava o lugar dele em algumas etapas do terceiro jogo, como a inesquecível corrida na Muralha da China montada no tigrinho.
Crash Bandicoot N. Sane Trilogy: a Smashing Blast from the Past!
Crash Bandicoot N. Sane Trilogy foi lançado dia 30 de Junho de 2017, custando 39.99 doletas na gringa, 149.99 reaus na PlayStation Store BR, e tem um monte de loja nacional vendendo o jogo em versão física a preços mais em conta ainda (cheguei a ver por 127 paus à vista).
Mas sabe como é né, a imprensa especializada sempre recebe uma cópia muito antes do lançamento (pelo menos os importantes, não eu aqui! Vida difícil…) e a galera começou a soltar reviews bem positivos em seus sites apesar dos dois fatores que pesavam contra: o fato de ser mais um remast..remak..m…remastermake, e a fama bem modesta da empresa que estava por trás da reedição. A Vicarious nunca tinha feito nada digno de aplausos, e em se tratando de Crash Bandicoot, só fizeram jogo mequetrefe com impressões bem mistas e qualidade muito inferior à dos jogos da trilogia clássica. Mas a favor, estava o fato de que eles seguiram o rascunho do original, receberam a cola da prova completinha, o gabarito do concurso, assim fica difícil não tirar nota boa!
Os 3 jogos originais são excelentes, e de acordo com quem já havia jogado os remastermakes (Há, curti!) e até com alguns vídeos comparativos que assisti, os três jogos eram exatamente iguais aos antigos, mas com as devidas (e fantásticas) melhorias visuais e adições ao gameplay. També, haviam adicionado um modo Time Trial nos dois primeiros jogos e um nível novo e inédito que foi banido do 1º Crash Bandicoot por ser difícil demais chamado Stormy Ascent… que se já foi banido naquela época por ser muito difícil, imagina o estrago que faria na molecada de hoje… Mulecada não, tá cheeeeeio de gente jurando de pé junto que o game ficou mais difícil, e a choradeira foi tanta que a própria Activision acabou confessando que, devido aos ajustes gráficos e de jogabilidade, o pulo do personagem agora precisa ser mais preciso devido a modificações na área de colisão e na velocidade da queda após o pulo, diferenças que podem ser notadas com mais ênfase nos 2 primeiros jogos.
Mas heis que, algum tempo depois, o bolso desaperta um pouco e eu finalmente compro essa bendita trilogia pra ver se ela presta de verdade e Meu Deus, você joga, se diverte, se estressa, se alegra, se enfurece, vibra, termina o jogo (qualquer um dos 3) e aí então você percebe que não está jogando no PS1, e sim, em algum console nascido mais de 20 anos depois… Só que as sensações são as mesmas, todas. O trabalho da Vicarious havia sido realmente bom, bem mais do que eu imaginava! Tá, a colisão diferente realmente deixa o jogo mais difícil do que já era por que o Crash escorrega mais das beiradas. E olha que essa trilogia já era o cão chupando manga pra se fazer tudo. Mas impossível não é, tanto que eu já terminei os 3, platinei o 1 e já estou no caminho da platina para o 2, mas o time trial obrigatório nos 3 jogos para quem quer fazer o famigerado trofeuzinho vai com certeza fazer o jogador perder alguns cabelos que podem fazer falta mais tarde.
Imagine, pra um cara como eu que adorava a franquia no Ps1 a ponto de devorar os 3 jogos fazendo tudo o que eles tinham a oferecer mais de uma vez, como é presenciar a revitalização daquilo tudo de forma tão fiel e ao mesmo tempo tão atual. Graficamente, Crash Bandicoot N. Sane Trilogy é um colírio: tudo foi refeito e animado de forma dar vida nova aos cenários do game. A gente se surpreende principalmente no 3º jogo, onde a qualidade geral do remastermake realmente salta aos olhos, e a gente fica imaginando o que mais daria pra trazer de volta no mesmo molde…
Pessoal, como é bom ver um personagem tão querido ser ressuscitado dessa maneira. Crash Bandicoot nunca mereceu o tratamento genérico que recebeu após o adeus da sua empresa criadora, que fez com que uma das melhores franquias da quinta geração de videogames caísse por terra perdendo toda a monstruosa importância que um dia teve e que poderia continuar tendo. Crash poderia não ser um Mario hoje, mas talvez um Sonic! Não o nosso querido Sonic gordinho clássico do Sonic Mania, mas sim o magrelo falante 3D: um personagem até certo ponto respeitado, famoso e que recebe games que vendem milhões de unidades mesmo sem ter toda aquela qualidade do passado. Seria um panorama aceitável para o Crash… Continuaria popular e querido por uma nova geração de jogadores mesmo que estes não conhecessem os games antigos do herói, mas nem isso foi possível, pois faltou ousadia, faltou marketing, faltou visão e, principalmente, respeito a esse carinha. Tanto é que naquela E3 de 2016, parecia que a gente não ouvia falar de Crash Bandicoot desde 1999, ano em que o ótimo mas pior que Mario Kart 64 Crash Team Racing foi lançado.
Crash Bandicoot: Forever enquanto Duréver
E agora que eu estou experimentando mais uma vez estes jogos, ouvindo novamente aquela trilha sonora linda agora remixada, passando de novo por aquelas etapas submersas irritantes do Crash 3 Warped, correndo à toda velocidade nas costas do ursinho polar do Cortex Strikes Back e fazendo mais uma vez tudo que eu não lembrava mais do Crash 1 (pq eu não lembrava mais de p@#$a nenhuma do Crash 1), eu estou imaginando que aquele cenário que eu citei no parágrafo acima pode até se tornar real. A Activision nem deixou a poeira baixar e já mandou remasterimakezar (nossa!) a pérola Crash Team Racing, que já foi lançado com o nome de Crash Team Racing Nitro-Fueled mas a verba tá curta aqui e por isso ainda não deu pra fazer umas curvas nele, e mês passado (outubro 2020) foi lançado a continuação da coisa toda Crash Bandicoot 4: it’s About Time, desenvolvido pelo mesmo estúdio de Skylanders… Lembra da tal E3 2016? Então né!
Mas essa parte é a que me dá medo. Enquanto a cola está pronta, é fácil tirar nota boa, mas e quando não tem mais cola? Não tenho ideia de se esse novo Crash Bandicoot presta, se consegue preservar a essência intocada presente nos 3 games da nova trilogia, nem se ele conseguirá fazer com que a saga do marsupial não chegue, mais uma vez, a um indesejado final não anunciado. Mas eu torço demais para que o futuro desse personagem não se perca mais uma vez e que ele continue mostrando suas maluquices pra todo mundo ver, rir e o respeitar ainda por muito, muito tempo. Crash Bandicoot N. Sane Trilogy já é um baita ponto de partida para isso!
Não importa o seu console: compre que vale a pena. Garantido pelo fã de Crash aqui!
Crash Bandicoot N. Sane Trilogy
+ Switch, Xbox One e Windows
ANO: 2017
Activision
Score: 8.5
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)