Em se tratando de coisas aleatórias pra se assistir na TV, Documentário não é uma palavra que me apetece. Pra ser bem sincero, eu odeio documentários, e a culpa é da enorme quantidade de encheção de linguiça que a maioria esmagadora deles utiliza como forma de aumentar um conteúdo que, se fosse melhor estudado, roteirizado e produzido, não dependeria disso para ter uma duração aceitável.
E em se tratando de documentários sobre games, já assisti mais de uma dúzia, um pior que o outro. Seja no conteúdo ou na produção, TODOS pecam feio em algum momento, todos me fizeram torcer o nariz mais de uma vez. Alguns eu até me arrependi de assistir mas, como diz um dos mais novos ditados da cultura digital brasileira, “o que a gente vê, não dá mais pra desver”, não é mesmo?
Mas eis que o pessoal do grupinho do Wathsapp me mostrou que ainda havia esperança! Algo novo estava surgindo, com produção Netflix, entrevistas com gente lendária e uma abertura que era tudo o que eu esperava de uma série documental sobre a história dos jogos eletrônicos.
Sim, eu fui fisgado pela animação de abertura de High Score, ou GDLK, como foi batizado na Netflix nacional, um documentário em 6 episódios que faz uma viagem maluca, bem humorada e excepcionalmente bem produzida pelo universo dos games, indo desde os primórdios da indústria, até o surgimento da essência do que vemos e jogamos hoje. Mas só a essência de hoje mesmo, pois é fato que um documentário completo, que pudesse cobrir momentos como a chegada dos aparelhos de 32/64 bits, a mudança do padrão gráfico de 2D para 3D, o fim dos dias da SEGA como fabricante de consoles, a revolução da jogatina online e muitos outros acontecimentos históricos da indústria, necessitaria com toda certeza do dobro de episódios ou até mais!
Pois é, High Score não vai tão longe: ele foca nos acontecimentos do início da indústria até mais ou menos metade dos anos 90, praticamente não entrando em mérito algum pós Mega Drive e Super Nintendo. Só que esse período que o documentário cobre, ele cobre quase com perfeição.
Tudo está lá: o primeiro jogo de videogame da história, o primeiro console, o primeiro cartucho, os criadores por trás de tudo isso, o fiasco do E.T. do Atari2600, a aparição do Famicom no Japão, a chegada do Nes em terras americanas, a ascensão da SEGA no início dos anos 90, Mortal Kombat e Night Trap nos tribunais devido ao exagero de violência e sangue voando, a chegada de Wolfenstein e DOOM aos PCs e muitas, muitas outras histórias contadas pelos próprios artistas e profissionais envolvidos com tais obras e acontecimentos. É muita informação inédita pipocando na tela a todo momento, coisas que surpreendem e colocam um sorriso na boca de qualquer especialista no assunto, e tudo vem realçado por um monte de animações em pixel art que retratam cada uma daquelas situações vividas por aquelas pessoas de um jeito todo especial. É bem feito, bem humorado e muito original, algo que realmente enche os olhos.
Alguns fatores diferenciam High Score de um documentário padrão. Por exemplo, ele não se mantém em uma progressão cronológica: ele nos coloca em uma série de viagens no tempo aleatórias, voltando e avançando datas enquanto a nossa cabeça vai assimilando e montando um quebra cabeça que fará todo o sentido no fim de cada episódio.
Bom, menos no episódio 3… o episódio 3 é bem fraco, quase uma perda de tempo. Eu não disse que a série era QUASE perfeita? Esse “quase” é culpa de um terceiro capítulo que, se eu pudesse, eu deletava da obra e a deixaria só com 5 episódios no total. Ok, o assunto principal não é de maneira alguma irrelevante: falamos de RPG aqui, mas de forma rasa e um turbilhão de informações omitidas do tipo “meu amigo, não dá pra falar de Final Fantasy sem falar de Dragon Quest” por exemplo.
Mas, muito felizmente, a coisa degringola só nesse capítulo. Nos demais, o alto nível geral é mantido, e o jogador se sente realmente respeitado e representado pelo que está acontecendo ali na tv. Você é das antigas, daqueles que jogou Nintendinho e Master System, que conhece bem a indústria, gosta daquilo tudo e até hoje discute com os amigos quem é melhor entre Super Nintendo e Mega Drive? Então High Score é para você mesmo e você vai adorar. E se você não é lá muito entusiasta da coisa mas gosta ou gostava de jogar algum joguinho de vez em quando, guarda isso com carinho nas lembranças e adoraria mostrar pros filhos como era a coisa toda na sua época, então High Score é para vc também! E se você não tá nem aí pra nada disso e prefere assistir novela e futebol, High Score também é pra você porque aí, quem sabe, você não passa a gostar um pouco desse universo!
High Score (GDLK)
ANO: 2020
TEMPORADAS: 1
Uma bola dentro e muito certeira da Netflix: High Score é, sem sombra de dúvida, o melhor documentário sobre games que eu vi na minha vida. Uma obra brilhante e que você simplesmente não pode perder.
Fico na torcida para que venham novas temporadas, por que toda aquela longa história que ainda pode ser contada, desvendada, ou apenas registrada para a prosperidade, merece demais que isso aconteça nesse formato maravilhoso criado para essa série.
E é claro que o Mega Drive é melhor que o Super Nintendo... Qual a dúvida??
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)